quinta-feira, 4 de dezembro de 2014

Preparar o caminho...



Sorrimos muito…
Chorámos ainda mais…
As surpresas foram uma constante
e os dias nunca foram iguais!

Escolher pessoas que nos marcaram
seria desconcertante,
afinal, todas elas nos ensinaram
que o coração armazena bastante!

E se barreira a língua for,
se difícil é encontrar o amor,
na simplicidade descobriremos
que as recordações que temos
foram, muitas vezes no silêncio
ou nos pequenos gestos, que tecemos.

É tempo de regressar…
Aqui deixamos quem foi o nosso lar...

O comboio continuará a soar
quando a lua o céu iluminar…
A Betânia continuará a ser aqui em casa o despertar,
quando ao poço for cantar…

As mangas uma tentação,
a terra imensidão…
Amanhã? As chuvas dirão…
Chegaram apenas em tom de ameaça,
não mais voltaram e o povo já diz que será ano de desgraça…

Mas haja cor e alegria,
haja chima, caril
e amanhã o novo dia
e tudo passará….
O caminho em frente seguirá!






terça-feira, 18 de novembro de 2014

Tanto e tão pouco

A EA prepara-se para recomeçar...

Tudo tem o seu tempo...

E também nós por cá iniciamos a nossa "viagem de regresso".

Um mês e meio é o que nos separa das nossas famílias, dos nossos amigos... da nossa terra!

Parece tanto mas é tão pouco para o tanto que já aqui vivemos... Tanto mas tão pouco aquilo que semeámos...

Os jovens por cá já se estão a ir embora, a regressar a casa, os exames estão à porta, as férias merecidas, as chuvas já nos abençoaram e as enxadas começam o seu trabalho nas machambas... 

Mas ao que parece a colheita do ano passado foi produtiva e como diz a mamã Ermelinda " as pessoas ainda não sentem fome então não têm pressa para pensar no novo ano que há-de chegar..."

Assim se vive por cá...

Um dia de cada vez, carregando as consequências do dia que já passou...


quarta-feira, 15 de outubro de 2014

Estado Puro


Impressiona-nos o poder que a Educação tem na vida de uma pessoa...

Todos temos consciência disso, todos sabemos o quão importante é ter alguém que nos encaminhe, alguém que seja referência para nós, que semeie em nós os valores e regras capazes de nortear a nossa vida...

Sim, é inquestionável!

Mas depararmo-nos diariamente com a escassez dessa Educação é uma forte aprendizagem... Por vezes dolorosa! Pelo vazio que deixa nos corações e na mente das pessoas, vazio esse que não oferece espaço à ambição necessária ao crescimento de qualquer pessoa.

Noutras missões que tivemos oportunidade de viver, ao regressarmos muitos perguntavam: "Então, viste muita miséria?", sempre respondemos que não, não conheciamos realmente o verdadeiro reflexo desta palavra, não viamos pessoas a sofrer apesar dos poucos recursos que tinham, andar descalço e viver em palhotas de matope e capim não é miséria, vivem felizes na sua cultura e com aquilo que têm...

Mas hoje responderíamos "Sim", vemos "miséria" todos os dias... Mas hoje sabemos que a verdadeira miséria não é a material... Mas antes, a miséria de espírito, aquela que abafa qualquer iniciativa, que corrompe o coração do ser humano e que o aproxima ao coração instintivo dos animais...

Tanto que vivemos por cá... 

Tanto que os nossos olhos são obrigados a ver, mas de tão pequenos que eles são que ainda não sabemos onde arrumar tudo o que vivemos!

Apesar de tudo... Obrigado! Obrigado porque esta nossa missão é no mato! 

E é no mato que conhecemos o indivíduo na sua pureza máxima, conhecemos o mais genuíno que existe à face da Terra tal "diamante bruto"... E com isso conhecemos o que de bom e mau advém dessa pureza!

"Tamos juntos!"



A nossa Escolinha de "cara-lavada"

Irmã Celéria e Mestre Eduardo na Oficina de Costura

Escola Primária de Entrelagos - uma das salas

Habitação típica

domingo, 14 de setembro de 2014

Recomeço



E chegámos a Entre – Lagos… para ficar!

Para viver, para trabalhar, para aqui respirarmos Missão…

Pois é… A monotonia por aqui não existe e a imprevisibilidade é uma constante dos nossos dias…

Mecanhelas seria a nossa casa durante um ano mas logo que chegámos informaram-nos que a Paróquia seria entregue em Outubro a padres locais e consequentemente, a Consolata deixaria esta Missão.

Assim, a Paróquia de Mecanhelas vive hoje dias de grande mudança, mudança essa por vezes dolorosa mas necessária ao seu crescimento, amadurecimento…

E nós? A nós restou-nos aguardar com paciência e serenidade a decisão da Consolata e da EA sobre a continuidade da nossa Missão.

A Divina Providência, literalmente, encarregou-se disso e solicitou a nossa presença em Entre-Lagos, a proposta foi aprovada e hoje aqui estamos.

Casa já muito familiar para nós, pela curta distância que separa as paróquias irmãs, pelo amor da Equipa Missionária e da comunidade que sempre nos acolheu e pela cumplicidade que se foi gerando… Pelas partilhas, pelas aventuras e viagens que fizemos concretizando o projecto de Informática, pelas alegrias já vividas, pelas batalhas travadas em comunhão… Já eramos família e agora fazemos parte da mesma casa.

Claro que estes períodos de transição exigem sempre um gasto grande de energia e também para nós, nesta mudança de Missão, há que encontrar a força e a fé necessárias a este recomeço.

Estamos felizes pelo rumo que confiaram à nossa Missão contudo, não deixa de ser estranho… Uma casa nova, tão perto daquela que foi a nossa casa durante 8 meses… A despedida nem foi feita porque continuaremos a aparecer por lá e tanto a Escolinha como o Centro Nutricional continuam a estar sob a nossa responsabilidade…

E agora integramos toda uma comunidade de 90 jovens laristas que inicia o III trimestre e que já se encontra bem adapatada às rotinas do seu lar.
Encontremos o nosso espaço e a nossa Missão nesta pequena terra perdida algures neste cantinho do Niassa, tão importante nas relações fronteiriças com o Malawi!  

terça-feira, 19 de agosto de 2014

Prova de fogo à nossa consciência!!!

7 horas.

Já nos encontrávamos na fila da bilheteira para comprarmos a nossa viagem de comboio de volta a Cuamba.

Nós e centenas de pessoas que aproveitando a pausa escolar procuram a oportunidade de viajar.

8 horas.

Inicia-se a venda de bilhetes e está o caos instalado. As pessoas atropelam-se na tentativa de passarem à frente de outros para chegar ao guiché e os ladrões aproveitando a confusão, espreitam os bolsos e tentam a sua sorte.

Não fosse já este um espectáculo digno de ser observado, eis que chegam os "agentes de corrupção" para apimentar o festival.

Polícias, seguranças e os próprios trabalhadores "cortam" a fila, compram uns quantos bilhetes e aproveitando o desespero do povo que aguarda há 4-5 horas o seu bilhete, revendem-nos por vezes com uma percentagem de lucro de 100%.

Também nós esperávamos a nossa vez. Enlatados na fila, questionávamos o que deveríamos fazer... 

Os mafiosos, vendo que somos "akhunhas" desafiam-nos a comprar os bilhetes de revenda.

Já cansados de estar de pé há 3 horas ainda encontramos forças para dizer "não". Mesmo que não consigamos mudar o Mundo, queremos desconstruir a imagem do branco que tem muito dinheiro e que tudo pode, queremos ser exemplo de respeito e sabemos que aqui a cor da nossa pele é "fluorescente" e tudo aquilo que fizermos representará a atitude de todos os que têm a pele igual à nossa.

"Assim vão sofrer muito e não vão conseguir comprar bilhete" - dizem-nos. "Não faz mal, sofreremos com o povo!"

As horas foram passando, as pessoas desanimadas e revoltadas associavam-se ao esquema de corrupção... a ninguém parecia pesar a consciência e da boca sorridente daqueles que terminavam o seu negócio ouvíamos "O dinheiro fala todas as línguas".

Aproximava-se as 12 horas, o guiché preparava-se para fechar, os bilhetes de 2ª classe (170 meticais) esgotaram-se e nós, sem viagem, lá cedemos à classe executiva (600 meticais). Estava em jogo viajar no dia seguinte ou esperar mais 3 dias pelo próximo comboio.

Vamos comprar então!

Tínhamos duas pessoas à frente. Fecha-se a porta do guiché. Lotação esgotada.

Voltámos a casa com um escaldão na cara, sem bilhete e sem nada ter feito contra a corrupção... 

Valerá a pena deixar a consciência falar mais alto? 

domingo, 17 de agosto de 2014

Encontros



Saímos de casa há duas semanas. Decidimos “parar”... Não no sentido literal da palavra mas sim parar como quem se afasta daquilo que está a fazer, como que para abrandar o ritmo, mesmo que isso signifique entrar no chapa, num comboio ou num machibombo e andar a uma velocidade superior àquela típica dos nossos dias por cá!

Fomos ao encontro... Ao encontro da nossa primeira Missão – Macomia, das Irmãs e dos jovens, ao encontro do nosso afilhado da Helpo e da sua família em Pemba, ao Metoro chegámos num encontro surpresa com a EA e já de regresso, ao parar em Nampula somos surpreendidos ao encontrar jovens de Maúa.

Agora é tempo de regressar...


O coração está quente de tanto que foi abraçado e nele guardamos todos os sorrisos de quem encontrámos!


terça-feira, 22 de julho de 2014

Precisamos de ajuda para pensar... Água!


Estamos no mato, sim…

Estamos quase no “fim do mundo”… Mas não é por falta de acesso à Internet (antes fosse) mas sim, por falta de acesso a bens essenciais como a Água!

Quando a água não está disponível a todos da mesma forma… Quando não existe uma rede de abastecimento de águas… Quando nos cruzamos com crianças e adultos a carregar galões de 20 litros para as suas necessidades… Fará sentido que o acesso a um dos poços comunitários se faça mediante o pagamento de alguns meticais?

Por cá vivem-se tempos em que a população precisa de começar a lutar pelos seus interesses… Acabou o tempo em que a ajuda caía do céu, em que bastava pedir e choviam respostas de ajuda humanitária. Agora é tempo de construírem a sua própria “identidade”, de abandonarem a “cultura da pedinchice”…

Mas fará sentido começar a cobrar o acesso aos poços quando a água não está acessível a todos? Para tomar banho têm de ir ao poço, para lavar a roupa, para cozinharem, ao poço têm de ir e se pensarem em criar uma pequena machamba como vão regar se a chuva só regressa em Outubro?

Não defendemos o “dar de mão beijada”, de todo… Mas também não apoiamos esta decisão aparentemente educativa…

E vocês?